Especialistas consideram positivo início do governo Lula, mas com pouco avanço em segurança pública, indústria e inovação.

Especialistas consideram positivo início do governo Lula, mas com pouco avanço em segurança pública, indústria e inovação.

Sugestões debatidas serão apresentadas ao governo pelo Derrubando Muros em evento público, nos próximos dias

Os primeiros 100 dias do governo Lula foram considerados positivos pelos especialistas que participaram nesta segunda-feira 10 da live promovida pelo grupo Derrubando Muros, que reúne mais de 100 pessoas, entre ativistas, cientistas, economistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos. Embora os presentes ao debate considerem necessário avançar em várias questões, a maioria acredita que os 100 dias de governo são ainda um período curto para uma avaliação mais precisa.

Economia

Segundo o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, “temos coisas boas” nesse início de governo. “O grande feito do ministro Fernando Haddad foi a capacidade de desenhar uma agenda para esses dois primeiros anos, negociar com a sociedade e internamente com o PT”. Para Pessôa, o marco fiscal tem um desenho correto, sendo um instrumento importante “para conversar sobre o conflito distributivo”. Mas considera o marco insuficiente porque não garante “solvência” e estabilidade da dívida pública.

Democracia x autocracia

Marta Arretche, professora do Departamento de Ciência Política da USP, considera que o 8 de janeiro mostrou “uma direita que de fato representa uma ameaça ao Estado de Direito. Essa direita tem densidade eleitoral e capacidade de mobilização”. A tentativa de golpe fracassado, na opinião de Marta, ajudou o governo, que “agiu muito rápido, ao trocar o comando do Exército”. E, corretamente, na avaliação da especialista, o presidente Lula manteve o ministro da Defesa, José Múcio.

Educação

Em relação à educação, Priscila Cruz, diretora executiva e fundadora do Todos pela Educação, também vê o início de governo positivo. “Houve uma regressão muito forte nos quatro anos do governo anterior. O trabalho atual do MEC tem sido de mudar a direção da gestão, para apoiar a educação básica, e estabelecer prioridades, como na alfabetização, na conectividade das escolas e na educação integral”. Porém, a especialista considera que a resposta foi lenta em relação às mudanças no ensino médio.

Segurança Pública

Na segurança pública, uma das áreas mais mal avaliadas pela população conforme as últimas pesquisas, Joana Monteiro, economista e coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança da FGV, acredita que o segmento “continua sendo a agenda esquecida”. Esse governo, afirma Joana, decidiu não criar um Ministério da Segurança Pública, por isso, “precisaríamos de uma sinalização de uma Secretaria de Segurança Pública muito forte”. Joana aponta questões essenciais, como definir o papel dos municípios, Estados e União, que teria de ser regulamentado por meio do Sistema Nacional de Segurança Pública, além de fortalecer o sistema de informações.

Saúde

Para Miguel Lago, cientista político e diretor executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), a saúde foi uma das áreas mais afetadas pelo último governo. “O grande desafio do atual Ministério da Saúde é a resolução de questões urgentes, que o governo tem atendido e sido reativo”. Ele considera positiva a criação da Secretaria da Saúde Digital, onde o Brasil está muito atrasado. “Seria uma pena, por outro lado, se o governo não implementasse a regionalização” do atendimento via SUS, afirma.

Economia verde, clima e transição energética

Na energia e meio ambiente, Jerson Kelman, engenheiro e professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ, avalia que o governo está andando de lado. “Há várias coisas boas no meio ambiente, mas no meio ambiente urbano o governo deu um tiro no pé”, como na sugestão de decretos que alteram o marco do saneamento.

Indústria do futuro e geopolítica

O empresário e economista Horácio Lafer Piva diz que os 100 dias para a indústria “não foram quase nada. Está difícil entender para onde nós vamos”. Para Piva, o Brasil pode ser o líder mundial em economia verde, descarbonização e biotecnologia florestal. “Mas o mundo aí fora não vai esperar para sempre”.

Inovação e empreededorismo

Para Roberto Alvarez, investidor e especialista em inovação, melhorou o diálogo com os setores do país que representam inovação e empreendedorismo. “A palavra ciência voltou ao radar e aumentaram os recursos para a área”, diz. Alvarez alerta, porém, que é preciso avançar na agenda de transformação, com visão estratégica. O empreendedor Fersen Lambranho avalia que “falta ao país e na nossa cultura a crença de que o empreendedorismo é o grande motor da nossa sociedade”.

Todos os temas abordados na live deste dia 10 serão apresentados publicamente a um representante do governo em um novo encontro, nos próximos dias.

A iniciativa teve apoio do Nexo Jornal.